Quem nunca ouviu essa frase?
Desde sempre, aprendemos que só seríamos bons profissionais se soubéssemos separar, quase que cirurgicamente, nosso “lado pessoal” do nosso “lado profissional”. Culturalmente, sempre foram enaltecidos, e mais bem reconhecidos, os profissionais que conseguiam fazer essa quebra, independentemente dos possíveis efeitos colaterais.
E assim fomos caminhando: nos esforçando para calar todo e qualquer problema pessoal que estivéssemos vivendo, esconder nossa vulnerabilidade, e deixar nossa individualidade do lado de fora do ambiente corporativo.
Consciente ou inconscientemente, a forma de fazer isso era criando “personagens corporativos”, que, de certa forma, atendiam essa necessidade e ajudavam a construir uma imagem tida como mais profissional.
Acontece, porém, que o fato de não podermos ser nós mesmos no trabalho não se sustenta por muito tempo e pode ter inúmeras consequências (insatisfação permanente, ansiedade e síndrome do impostor são apenas algumas delas), impactando diretamente inclusive na nossa entrega, pelo fato de não podermos enriquecer nosso trabalho com a nossa totalidade.
É claro que precisamos ser capazes de responder às demandas do trabalho, dando nosso melhor e entregando o que foi acordado, mas isso não significa ignorar parte do nosso ser, e sim, trabalharmos constantemente nosso autoconhecimento e equilíbrio emocional, para podermos nos manter produtivos independente das circunstâncias.
Tem uma frase que eu adoro – e que talvez alguns de vocês já tenham ouvido – dita por Fabio Barbosa, executivo com quem tive o prazer de conversar algumas vezes, que diz mais ou menos o seguinte: “Um dos únicos problemas durante minha carreira foi que, toda vez que eu contratava um profissional, vinha uma pessoa junto”.
É óbvio que ele dizia isso em tom de brincadeira, já como uma provocação para o fato de que seria impossível dissociar essas duas vertentes.
O fato é que, hoje em dia, e mais do que nunca, a equação “profissional–pessoal” tornou-se quase que indivisível. Isso acontece tanto por conta dos próprios profissionais, que vêm exigindo uma relação diferente com o trabalho (entendendo que precisam se sentir inteiros para poderem se realizar, dar o seu melhor e engajar de fato com a empresa), quanto por conta da revolução digital, aumento da conectividade e do crescimento das redes sociais (onde a exposição pessoal aumentou de forma significativa).
Vale dizer que o surgimento de conceitos como engajamento dos funcionários (onde leva-se em consideração também as necessidades psicológicas dos colaboradores como forma de obter maiores índices de satisfação) e experiência do colaborador (onde toda a jornada dos funcionários é projetada para criar um ambiente de trabalho positivo) também reforçaram e encorajaram toda essa mudança.
O cenário mudou tanto que, atualmente, diferenciados são aqueles profissionais que conseguem se apresentar de forma integral, mostrando-se humanos, levando a vida pessoal para o ambiente organizacional, dando exemplos de equilíbrio e tirando proveito disso tudo, além de conseguirem manter o foco, independentemente das adversidades.
Para finalizar, deixo aqui uma pequena provocação a todos os envolvidos:
Você, profissional: Sente-se à vontade no trabalho? Está conseguindo viver sua totalidade, aproveitando todas as suas facetas para entregar o seu melhor? Se não, o que tem feito para mudar esse cenário?
Você, líder (que obviamente também é o profissional acima, mas possui duplo chapéu e a responsabilidade de fazer a gestão de um time): Tem propiciado espaço para que as pessoas se sintam à vontade? Encoraja seus colaboradores a serem eles mesmos? Consegue extrair o melhor de cada um, usando as diferenças de forma positiva?
Você, empresa: Já entendeu o quanto abraçar e estimular a diversidade pode ser benéfico para o seu negócio? Tem a consciência de que a experiência que você oferece para seu colaborador está diretamente ligada à criação de um ambiente de engajamento, criatividade e inovação?
Boa reflexão!